quarta-feira, 21 de março de 2012

Profº Fábio Feitoza/civilizações Antigas 1º ano

Mesopotâmia: região povoada por uma grande diversidade de civilizações.
Mesopotâmia: região povoada por uma grande diversidade de civilizações.
A região entre os rios Tigre e Eufrates foi o berço de diversas das civilizações desenvolvidas ao longo da Antiguidade. O aparecimento de tantas culturas nessa região é usualmente explicado pela fundamental importância dada aos regimes de cheias e vazantes que fertilizavam as terras da região. Ao longo desse processo, sumérios, assírios e acádios criaram vários centros urbanos, travaram guerras e promoveram uma intensa troca de valores e costumes.

Segundo alguns estudos realizados, a ocupação dessa parcela do Oriente Médio aconteceu aproximadamente há 4000 a.C., graças ao deslocamento de pequenas populações provenientes da Ásia Central e de regiões montanhosas da Eurásia. Cerca de um milênio mais tarde, os povos semitas também habitaram essa mesma região. Já nesse período, a Mesopotâmia possuía um expressivo conjunto de cidades-Estado, como Nipur, Lagash, Uruk e Ur.

Essas primeiras cidades são parte integrante da civilização sumeriana, tida como a primeira a surgir no espaço mesopotâmico. Dotadas de ampla autonomia política e religiosa, essas cidades viveram intensas disputas militares em torno de regiões férteis da Mesopotâmia. Nesse meio tempo, os semitas foram ocupando outras áreas onde futuramente nasceriam novos centros urbanos. Entre as cidades de origem semita, damos especial destaque a Acad, principal centro da civilização acadiana.

Nesse período de disputas e ocupações podemos observar riquíssimas contribuições provenientes dos povos mesopotâmicos. Entre outros pontos, podemos destacar a criação de uma ampla rede comercial, códigos jurídicos, escolas, conhecimentos matemáticos (multiplicação e divisão), princípios médicos, a formulação da escrita cuneiforme e a construção dos templos religiosos conhecidos como zigurates. Por volta de 2350 a.C., os acadianos, liderados por Sargão, dominaram as populações sumerianas.

Em 1900 a.C., a civilização amorita – povo de origem semita – criou um extenso império centralizado na cidade de Babilônia. Hamurábi (1728 – 1686 a.C.), um dos principais reis desse império, foi responsável pela unificação de toda a Mesopotâmia e autor de um código de leis escritas conhecido como Código de Hamurábi. Esse conjunto de leis contava com cerca de 280 artigos e determinava diversas punições com base em critérios de prestígio social.

Por volta de 1300 a.C. o Império Babilônico entrou em decadência em resultado da expansão territorial dos assírios. Contando com uma desenvolvida estrutura militar, esse povo ficou conhecido pela violência com que realizavam a conquista de outros povos. As principais conquistas militares do Império Assírio aconteceram nos governos de Sargão II, Senaqueribe e Assurbanipal. Com o passar do tempo, esse opulento império não resistiu às revoltas dos povos dominados por ele mesmo.

No ano de 612 a.C., os caldeus empreenderam uma vitoriosa campanha militar que deu fim à hegemonia dos assírios. A partir dessa conquista ficava registrada a formação do Segundo Império Babilônico ou Neobabilônico. O auge dessa nova hegemonia na Mesopotâmia ficou a cargo do Imperador Nabucodonosor II. Em seu governo, importantes construções, como a Torre de Babel e os Jardins Suspensos, representaram o notável progresso material dessa civilização.

Em 539 a.C., durante o processo de formação do Império Persa, os babilônios foram subordinados aos exércitos comandados pelo imperador Ciro II. Essa conquista assinalou o fim das grandes civilizações de origem mesopotâmica que marcaram a história da Antiguidade Oriental.

Código de Hamurábi

 

O Código de Hamurábi empreendeu uma nova experiência na tradição jurídica mesopotâmica.


No processo de consolidação do Primeiro Império Babilônico (1800 – 1600 a.C.), observamos a trajetória que permitiu a civilização amorita subjugar uma grande parcela da população encontrada na Mesopotâmia. Entre os diversos reis que empreenderam a formação dessa estrutura política sólida e centralizada, destacamos o papel desempenhado por Hamurábi, monarca que comandou a Babilônia entre os séculos XVIII e XVII a.C..

Buscando garantir o exercício de seu poder no rico território mesopotâmico, esse monarca decidiu empreender uma reforma jurídica que fixou uma série de importantes transformações. Até o seu governo, as leis que regulamentavam os direitos e deveres dos babilônicos eram transmitidas por meio da oralidade. Ou seja, toda a lei que partia da autoridade real ou traçava as tradições jurídicas da população era repassada de boca em boca.

Muitas vezes, esse tipo de costume abria espaço para diversas contendas e modificações que poderiam ameaçar a estabilidade necessária a um regime controlado por um único indivíduo. Por isso, o rei Hamurábi ordenou a criação de um código de leis composto por aproximadamente 280 artigos devidamente registrados em um imenso monólito, que levava em seu topo um relevo com a imagem do próprio rei. Dessa forma, nascia um dos mais antigos códices de leis escrito em toda história humana.

Em linhas gerais, o Código de Hamurábi foi baseado na anterior Lei de Talião, que preconizava o princípio do “olho por olho, dente por dente”. Dessa forma, podemos perceber que, em diversos casos, as leis escritas por Hamurábi privilegiavam a adoção de uma pena similar ao tipo de crime realizado pelo seu infrator. No entanto, quando estavam envolvidos indivíduos originários de classes sociais distintas, essas penas poderiam ser bastante variadas.

Preocupado com a aplicação das leis em todo território dominado, Hamurábi teve o cuidado de produzir cópias do código que deveriam ser fixadas em diferentes regiões de seu império. Dessa forma, estabelecia um meio de homogeneizar as decisões jurídicas a serem adotadas e, ao mesmo tempo, garantia meios de legitimar sua própria autoridade. Mesmo com o fim do Império Babilônico, percebemos que diversas civilizações se inspiraram nesse importante legado jurídico para organizar seu próprio conjunto de lei.

Mesopotâmia - Economia


O comércio foi um dos pilares da economia mesopotâmica.
A economia dos povos mesopotâmicos, tendo grande semelhança com o Egito, era sustentada pela produção agrícola obtida às margens dos rios Tigre e Eufrates. No entanto, a violência e irregularidade do sistema de cheias desses dois rios exigiam um esforço maior para que a exploração agrícola fosse viabilizada. Dessa forma, a tecnologia agrícola desses povos exigia a elaboração de um sofisticado sistema de irrigação e drenagem controlada pela construção de diversos diques e barragens.

Ao mesmo tempo, é importante salientar que a disponibilidade de terras férteis na Mesopotâmia não era homogênea. Em contraste às férteis planícies meridionais, a porção norte do território possuía um solo árido e extremamente acidentado. Esse contraste motivava, por exemplo, muitos pastores assírios a invadirem terras ao sul em busca de alimento. Outro ponto de importante destaque era o papel desempenhado pelo Estado no desenvolvimento da agricultura na região.

O governo organizava a implantação de um sistema de servidão coletiva responsável pela administração das atividades agrícolas. Além disso, o Estado era o responsável direto pela condução de obras públicas desenvolvidas com o objetivo primordial de ampliar as atividades agrícolas. Ao contrário dos egípcios, os mesopotâmicos não abdicavam da propriedade das terras em benefício do Estado. Todavia, os trabalhadores agrícolas eram obrigados a ceder parte de sua produção.

Geralmente, os campos férteis eram utilizados na plantação de trigo, cevada, centeio e para a criação de animais domesticados. Com desenvolvimento das atividades agro-pastoris, os povos mesopotâmicos foram capazes de acumular excedentes responsáveis pela articulação das primeiras atividades comerciais. A facilidade de deslocamento no território mesopotâmico e a carência de produtos em certas regiões também contribuíram enormemente para a consolidação de uma classe de mercadores.

Diversas caravanas eram formadas com o intuito de buscar matérias-primas como pedras preciosas, marfim, cobre e estanho. Ao longo de sua história, a Mesopotâmia se transformou em um dos maiores centros comerciais do Oriente, atraindo o interesse de comerciantes da Ásia Menor e da região do Cáucaso. Com um padrão monetário pouco desenvolvido, a grande maioria das negociações era feita a partir da troca de barras de ouro e prata.

Mesopotâmia – Religião e Literatura


Ishtar e a Epopéia de Gilgamesh, grandes expoentes da religiosidade e da literatura dos mesopotâmicos.
No campo da religiosidade, a Mesopotâmia poder ser vista como um “grande caldeirão” de crenças e divindades. Muitos desses deuses possuíam forma humana (masculina ou feminina) e geralmente tinham suas características vinculadas a elementos da natureza ou corpos celestes. Em diversas culturas poderíamos encontrar a presença de divindades comumente adoradas como Shamash (deus do Sol e da justiça), Anu (senhor dos céus), Sin (deusa da Lua) e Ishtar (deusa da guerra e do amor).

O pensamento religioso dos povos mesopotâmicos tinha traço dualista, admitindo a existência de deuses inclinados para o bem e para o mal. Dessa maneira, a magia, a adivinhação e a astrologia eram utilizadas como meios de interação e conhecimento dos desígnios desse complexo conjunto de divindades. A prática religiosa era estabelecida nos ambientes públicos e privados, sendo os zigurates os principais centros de adoração da população.

Diversas culturas mesopotâmicas acreditavam na vida após a morte e, por isso, desenvolviam uma série de rituais funerários. Geralmente os mortos eram enterrados com alguns de seus objetos pessoais e a tumba que abrigava o corpo poderia indicar a condição financeira do falecido. De acordo com algumas narrativas míticas, os mortos passavam o além-vida em um mundo subterrâneo onde se alimentavam de pó para o resto de seus dias.

Influenciada pelos seus valores religiosos, a literatura mesopotâmica era repleta de mitos que explicavam a origem dos deuses e do mundo. A obra “O mito da criação” relata a origem do mundo graças aos feitos de Marduk, uma das principais divindades dos babilônios. Na “Epopéia de Gilgamesh” temos as desventuras do gigante que, em tempos remotos, teria controlado a cidade de Uruk. Segundo alguns estudiosos, algumas lendas contidas nesse livro são próximas às narrativas do Antigo Testamento.

Mesopotâmia – Sociedade e Cultura


Detalhe de uma escultura de origem mesopotâmica.
Os povos mesopotâmicos ficaram conhecidos pelas inúmeras cidades-Estado independentes que ocupavam a região dos rios Tigre e Eufrates. Em cada uma delas havia a presença de uma autoridade real responsável pelas principais decisões de cunho político e religioso. Mesmo estando associados aos deuses, os reis mesopotâmicos não eram vistos como divindades. Habitando suntuosos palácios e tendo um amplo corpo de funcionários à sua disposição, a realeza compunha o topo da hierarquia social.

Logo após o rei e seus familiares, a pirâmide social dos povos mesopotâmicos contava com uma classe intermediária integrada por nobres, guerreiros, funcionários públicos e sacerdotes que desempenhavam importantes funções próximas à manutenção do Estado. A grande maioria da população era pertencente a uma classe de camponeses e trabalhadores que prestavam serviço à comunidade. Dessa maneira, essas sociedades eram majoritariamente sustentadas por uma ampla classe de homens livres.

Entretanto, em algumas sociedades de caráter iminentemente militarista, como no caso dos assírios, havia a presença de uma classe de escravos. Nas sociedades onde a questão da propriedade da terra não tinha um caráter rígido e centralizado, a presença de escravos era restrita, tendo em vista a disponibilidade de mão-de-obra oferecida pelo sistema de servidão coletiva. Em certos casos, os escravos eram utilizados para a realização de tarefas mais exaustivas e perigosas.

No campo científico, as culturas mesopotâmicas tiveram destacado papel no desenvolvimento da escrita com a criação de um sistema de caracteres cuneiformes. Com o progresso das atividades comerciais, a álgebra teve grande desenvolvimento com a criação de operações matemáticas e sistemas de pesos e medidas. Paralelamente, o interesse pela Astronomia permitiu a distinção das estrelas e dos planetas, e o desenvolvimento de um calendário lunar com doze meses de duração.

No terreno das artes e da arquitetura os mesopotâmicos ficaram conhecidos pela construção de suntuosos palácios e templos, mais conhecidos como zigurates. A escultura mesopotâmica era bastante simples, contando com imagens sem expressão e uma representação minimalista dos corpos. Na pintura, os temas cotidianos, religiosos e militares tinham grande destaque. Paralelamente, a cerâmica também tinha grande destaque na criação de utensílios e no registro de documentos escritos.

Sumérios e acádios


Sumérios e acádios estabeleceram as primeiras cidades-Estado da Mesopotâmia.


Por volta de 10000 a.C., os primeiros grupos humanos sedentários passaram a se fixar na região da Mesopotâmia, dando os primeiros passos que marcaram o surgimento das primeiras cidades-Estado da região. Com o passar do tempo, avançadas técnicas de exploração dos recursos hídricos permitiram o incremento populacional e a constituição das primeiras cidades, como Uruk, formada em 4000 a.C..

Foi justamente nessa época que os sumérios – civilização oriunda do planalto iraniano – se fixaram na região da Caldeia, localizada entre a Baixa e a Média Mesopotâmia. Com o desenrolar de sua presença naquele território, os sumérios foram responsáveis pela fundação de doze cidades-Estado, como Quish, Ur, Nipur e Lagash. Marcando o desenvolvimento da chamada Revolução Urbana, cada uma dessas cidades era dotada de um núcleo urbano cercado por terras destinadas ao cultivo.

Tendo uma organização política descentralizada, cada um desses polos urbanos era controlado por um sacerdote auxiliado por um conselho de anciãos. Este chefe político era conhecido como patesi e tinha como tarefas primordiais a organização da população, o controle dos exércitos, a cobrança de impostos e a construção das obras hidráulicas e templos. O uso das terras era feito de maneira coletiva, já que os sumérios acreditavam que elas pertenciam aos deuses.

Paralelo ao desenvolvimento agrícola, os sumérios também foram capazes de firmar relações de comércio com outros povos da Antiguidade. O controle dessas atividades foi possível com o auxílio da escrita cuneiforme, concebida a partir da gravação de símbolos em blocos de argila posteriormente expostos à luz solar ou levado para uma fornalha. Esse código escrito, além de ter fins econômicos, também permitiu a criação de uma rica literatura, repleta de mitos, narrativas históricas, leis, fábulas e provérbios.

A autonomia política de cada uma das cidades sumerianas pode ser compreendida através dos vários conflitos envolvendo diferentes núcleos. Enquanto se desgastavam com a realização dessas batalhas, os povos semitas ocuparam regiões próximas da Suméria, formando a civilização acadiana. Por volta de 2400 a.C., conseguiram impor a sua hegemonia sob as cidades-Estado sumerianas. Já em 2330 a.C., o rei acadiano Sargão I promoveu a unificação da porção centro-sul da Mesopotâmia.

O período de ascensão do império acadiano foi relativamente curto, pois diversas tentativas de invasão militar enfraqueceram seriamente sua unidade política e territorial. Em 2180 a.C., os gutis – originários das montanhas da Armênia – empreenderam uma grande ofensiva contra várias cidades mesopotâmicas. Somente a cidade de Ur conseguiu reagir contra os gutis e impor sua dominação. Entretanto, por volta de 2000 a.C., os povos elamitas deram fim à supremacia acadiana.
 
Por Rainer Sousa
Graduado em História

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